Saudades de Casa

Já faz cinco anos que estou longe de casa, os quais me fizeram percorrer três regiões do país e vivenciar situações que sem dúvidas nunca estive preparado. Não pretendo fazer um dossiê a respeito, até porque esse será um tema recorrente. Mas, dar uma pincelada a respeito do que vivo.

Nos últimos anos percebi um novo fenômeno nessas terras, o qual integro até hoje. Me parece que o acesso ao ensino superior engrossou o fluxo migratório de jovens adultos que deixam suas casas para ingressarem na faculdade. No meu caso, deixei a casa de meus pais no norte e me aventurei no nordeste.

Fevereiro de 2013, lembro bem o momento em que coloquei meus pés naquela cidade; era madrugada e tudo parecia infinitamente maior e mais agressivo do que realmente era. Pensei que ter amigos ao meu lado faria tudo ficar mais fácil ou menos difícil. Entretanto, minha estratégia de rpg não deu muito certo, afinal não haviam números que conseguissem derrubar aquele ‘boss’. Não sem o level correto.

Entre idas e vindas vamos ficando mais experientes e aquilo que antes pusera um medo paralisante, hoje parece um desafio a ser transposto. Não pretendo entrar em muitos detalhes nesse post em específico, afinal tenho plena consciência do que muitos vivem, estão por viver ou viveram essa situação. Aqueles que se identificaram, gostaria de mandar forças, afinal sempre tem um ou outro que torce por nosso fracasso.

Sinto que fugi bastante do tema do título. Mas, atualmente já terminei meu curso, depois de algumas muitas mudanças no meio do caminho, e ainda sigo longe de minha própria terra. O engraçado é que não me sinto mais ‘em casa’ na minha cidade natal, ou mesmo naquela em que vivi os últimos anos, que me forjou à ferro e fogo. Aparentemente meu novo desafio é reconstruir essa relação em uma nova cidade. Não faço ideia de como faze-lo, mas sigo em frente junto daqueles que conheci nesta caminhada.

 

Escrito ao som de: Chrono Cross – Abertura (PS1)

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Nem mesmo eles estavam preparados

Das maiores dificuldades que enfrentei na vida, certamente acertar os ponteiros com meus pais figura dentre as mais difíceis, chegando a ser um processo delicado e minucioso.

Estava com o bloco de texto aberto para elaborar um post sobre música, quando de repente a janela do Discord começa a piscar na barra de tarefas, e um amigo manda mensagem comentando a dificuldade que existe na relação entre sua genitora. Me perdi em pensamentos e comecei a revisitar momentos muito difíceis que vivi, com essa temática.

Cada um sabe o peso dos próprios problemas, e longe de mim ficar medindo tragédia com esse amigo, ou qualquer um que venha ler este singelo relato, mas lembro bem da relação complicada que tive principalmente com meu pai. Segundo minha mãe e minhas viagens introspectivas, cheguei a conclusão de que boa parte dos meus problemas estão ligados a semelhança que existe entre o temperamento de meu pai e deste que vos fala. Nunca concordamos com nada mas sempre tomamos as mesmas escolhas, dadas as devidas proporções. A sintonia era tão grande que nos tempos de escola, usava essa noção para tomas decisões que possivelmente deixariam o homem zangado, coisas como “Ah, vou esticar o horário desse rolê porque sei que meu velho não vai ligar, afinal eu não ligaria se estivesse no lugar dele”.

Outra parte engraçada está naquela ideia de que os pais sempre sabem o que estão fazendo, afinal eles são nossas primeiras referências. Meu velho, me desculpe, mas seus pais e os meus estão tão perdidos quanto eu e você. A diferença é que eles são mais experientes em resolução de problemas e um pouco mais sangue frio, justamente porque não querem nos preocupar com aquilo que tira o sono deles.

No final das contas só precisamos ser mais pacientes com os velhos, sabe. Entender que eles foram moldados sob outras diretrizes, e que muitas vezes podem ter sido vítimas disso. O elo que existe entre nós e eles certamente é muito forte e aguenta quase todo tipo de pancada, mas não é por conta disso que vamos dificultar as coisas, não é?

 

Escrito ao som de: n u a g e s – Dreams

 

DEVOLVE AÍ IRMÃO!

Se sair de casa sem celular me faz sentir nú, imagina só quando alguém começa a explorar minha intimidade móvel sem consentimento prévio, me sinto assediado!

Talvez assédio seja uma palavra meio forte, mas convenhamos, todos sentem aquela pontada no peito ao entregar o celular na mão do coleguinha para ele ver X, e quando você se dá conta ele está vendo Y, Z, perigando trombar até com aquele nude enterrado nos confins da bendita galeria de fotos.

Estava conversando com uma amiga, e papo vai papo vem, esse assunto acabou surgindo, logo minha cabeça começou a trabalhar nessa relação que existe entre intimidade x celular. Claro, existem dois tipos de pessoas, as que usam o aparelho como uma simples ferramenta, usada de vez em quando, e aqueles que usam o celular como um espécie de compilador de toda a sua vida, e gostaria de admitir que pertenço a esse segundo grupo, afinal se parar para pensar, boa parte da minha existência nos últimos meses está sintetizada naquele pequeno aparelho.

Sabe, não é como se tivesse recheado de gente nua e sexo selvagem, mas meu celular tem bons momentos de minha intimidade, tipo aquelas fotos da galera, marmanjos entre 21/24 anos, brincando em um parquinho em plena madrugada, ou foto de umas comidas feias que faço, fotos de minha família no cotidiano, prints de coisas bobas que vejo no Instagram e mais uma série de bobeiras que são importantes para minha pessoa, as quais se eu não estiver na vibe, vou proteger dos olhos alheios com unhas e dentes. Basicamente o que todo mundo faz, exceto a galera que é usuário ativo do Tinder.

 

Escrito ao som de: RICE BALLS – Pink Guy

Link: https://youtu.be/LeMVDuIO3J0

 

O todo poderoso

Felicidade é; final de tarde, calmaria, minha caneca preferida e uma garrafa de café.

Bom, desde muito pequeno aprendi a gostar de café puro, preto, pois minha intolerância a lactose não perdoava. Em minha família alguns hábitos eram sagrados, como o lanche de final de tarde regado a café, misto quente e bolos, sempre feitos por minha mãe, em grandes tabuleiros, e os quais se tornaram um outro grande amor, o qual discorrerei em outra oportunidade.

O ponto é que a bebida amarga sempre simbolizou um ritual ao longo de minha vida. Era o momento em que tudo parava, sentávamos à mesa e uma áurea de calmaria se formava ao nosso redor. Quando morava com meus pais nunca encarei o momento dessa forma, mas conforme me afastei do ninho, percebi que esse ritual ficou impresso em minha identidade, o que acabei transportando para todos os lugares que passei; a república que morei com amigos em Natal, a casa de meus tios em Brasília, meu apartamento na mesma cidade e agora aqui, em Minas Gerais.

No último ano passei a encarar a bebida, e tudo que a cercava, como um potencial estilo de vida e modelo de negócio. “Porque não transformar minha aptidão em uma forma de faturar uns trocados?”, pensava. Eis que comecei a pesquisar/ experimentar grãos, métodos de infusão, tipo de adoçantes, equipamentos, história e eventualmente cursos.

Estou longe de ser um barista, mas pretendo chegar nesse patamar, e algum dia, quando olhar para trás junto de meus pais, tomando café naquela mesma mesa de granito que testemunhou o surgimento de uma de minhas paixões, vamos rir bastante das dificuldades daquele passado longínquo.

 

Ps: algum dia pretendo elaborar um compilado sobre o grão, métodos e curiosidades 🙂

 

Escrito ao som de: Bag Raiders – Shooting Stars

Link: https://youtu.be/feA64wXhbjo