Você é como uma daquelas F1000, que vai abarrotada de melancia do interior até a feira.
Lopes, J.
Todas as noites chego em casa: inicio da madrugada, corpo doendo, moral baixa e cabeça fresca. Tomo banho, faço um chá, Earl Grey, meu preferido, pego algo para beliscar e ali enveredo madrugada a dentro, debulhando tudo que vivi nas últimas horas e como devo proceder daquele momento em diante.
O problema desse tipo de rotina é que se abre muito espaço para pensar e sentir, enquanto a parte do ‘viver’ em si, fica um tanto quanto apagada, e acaba sendo adiada para os dias de folga. No meu caso ‘o’ dia de folga.
O viver do dia a dia dói de mais.
A vida durante a ‘semana’ tem muito a ver com deixar de viver. Colocar tudo de lado e simplesmente agir de forma robótica, rápida e eficiente. Um amigo disse “pense em nossos pais, no quanto eles se dedicaram, lutaram e tiveram que superar os próprios desafios em prol da própria sobrevivência, fugir da real possibilidade da fome. Hoje, você, eu e tantos outros, não temos essas preocupações, não estamos lutando para fugir da fome, ou desamparo, estamos atrás de satisfação por meio da consciência que carregamos”. E completou “imagine nossos pais, sentados em um psicólogo, fazendo o exercício mental de imaginar o quanto aproveitaram a vida e se sentiram pessoalmente realizados. Seria a coisa mais deprimente do mundo”.
Levar as coisas de forma consciente não é fácil e muitas vezes se torna algo doloroso, afinal fica mais difícil não sentir o real peso dos desafios, é como se nada fosse relevado, porém ainda acho que é a forma certa de se levar a vida. É como uma evolução, sabe.
O que me faz voltar ao inicio do texto, àquela parte de ser uma caminhonete que faz transporte improvisado. Veja, cada um de nós carrega um peso, onde dependendo da fase da vida que esteja passando, essa carga é de mais e deixa os eixos tortos, fazendo a viagem mais demorada e penosa. Dá para aguentar, mas tudo fica mais difícil. As vezes algo quebra por conta do esforço, mas não dá pra ficar parado. Ontem eu quebrei, e hoje precisava estar operando, levando minhas melancias. A solução para evitar situações como essa é reforçar os eixos, e para isso cada um lança mão de uma série de medidas.
Geralmente todas as precauções passam por ao menos um desses dois pontos: “amparo” ou “vontade”. Onde muitos buscam forças por meio do amparo na fé, crença ou código moral, e outros se veem tirando forças das próprias vontades, ambições e metas. Particularmente sou um sujeito mais apegado ao segundo tipo de fortalecimento, fazendo disso minha luz particular, que me guia e dá forças para suportar os desafios e roubadas que me meto.
Todos possuem algo que serve de combustível ou blindagem para seguir em frente, eu, você, o amigo que me ajudou ontem, ao qual dedico esse texto, e até mesmo o seu Adamastor, que está ao volante da F1000, todos tem uma luz guia. Entretanto o mais importante é ressaltar que as luzes são trocadas constantemente, até o dia em que se encontra uma que nunca vai apagar.
Obrigado J.
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